O setor de gás da Europa está entrando em uma fase crítica, já que o fim da temporada de aquecimento prepara o cenário para reabastecer as instalações de armazenamento, que agora estão dois terços vazias após os meses de inverno.

Normalmente, os traders desempenham um papel central na reposição das reservas, uma vez que os preços do gás no verão são geralmente mais baixos, o que lhes permite lucrar com o armazenamento de grandes volumes para venda durante a próxima estação de aquecimento, quando a demanda aumentar novamente.

No entanto, especialistas do setor alertam que este ano está longe de seguir um padrão típico. O primeiro inverno realmente frio desde que a Europa perdeu grande parte do fornecimento de gás por gasoduto da Rússia acelerou o esgotamento das reservas. A situação se agravou ainda mais com a interrupção dos fluxos de trânsito restantes pela Ucrânia em 1º de janeiro. Esse aperto no mercado resultou em um aumento persistente nos preços do gás durante o verão, que já superam os preços projetados para o próximo inverno.

Agora, uma questão crucial é o papel dos governos na garantia do reabastecimento dos estoques. A intervenção estatal pode variar desde subsídios diretos para produtores e consumidores até a criação de reservas estratégicas e restrições à exportação. No entanto, cada uma dessas opções tem desvantagens. Os subsídios, por exemplo, podem incentivar a produção e reduzir os custos para os consumidores, mas também podem distorcer o mercado e levar a uma alocação ineficiente de recursos.

Ainda há tempo até a próxima temporada de inverno, mas muitos participantes do mercado acreditam que as primeiras semanas de abril serão decisivas para indicar se os agentes começarão a reabastecer os estoques, apesar da estrutura de preços desfavorável, ou se preferirão aguardar condições de mercado mais vantajosas.

Os riscos são elevados. Se a União Europeia entrar no próximo inverno com estoques insuficientes, a região poderá enfrentar uma disparada nos preços caso ocorra um frio intenso ou outras interrupções inesperadas. As regras da Comissão Europeia estipulam que as instalações de armazenamento devem estar 90% cheias até 1º de novembro. No entanto, propostas recentes para flexibilizar esse cronograma geraram incertezas no mercado, provocando oscilações nos preços e deixando os traders inseguros sobre a aplicação das regras no fim do ano.

Os contratos futuros de gás recuaram em meio a especulações de que as metas de armazenamento poderiam ser flexibilizadas, além do otimismo sobre uma possível resolução para o conflito na Ucrânia. Segundo alguns economistas, os preços do gás estão atualmente cerca de 50% acima dos registrados há um ano. Espera-se que o preço – pouco acima de 40 euros por megawatt-hora – permaneça nesses níveis ou suba nas próximas semanas, dependendo da demanda por gás natural liquefeito (GNL) durante o verão.

No aspecto técnico, os compradores de gás natural (GN) estão focados em recuperar o nível de 4,224. Um rompimento acima dessa faixa abriria caminho para 4,373 e, posteriormente, para a resistência mais significativa em 4,502. O alvo mais distante na tendência de alta está na região de 4,600.

No cenário de queda, o suporte inicial está próximo de 4,062. Um rompimento abaixo desse nível poderia levar o ativo para 3,915, com o alvo de baixa mais distante em torno de 3,734.